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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Por onde me procuras, doce Cinderela?!

Por onde me procuras, doce Cinderela?!
Se buscas o príncipe eu lhe quebro o sapato!
Eu que tenho sido a antítese dos contos e das fadas
Sou eu quem fecunda o lodo em que fostes criada
Eu que tenho a chave dos porões e sótãos
... Por onde me procuras, doce Cinderela?!
Eu sou o grito que antecede o parto
A lascidão das pernas quando foges do lobo
Sou o objetivo intrínseco da eterna procura
Sou a fonte de tudo que vc tem sido

De Rapunzel eu desfaço as tranças
Eu que rasgo véus e maculo lençóis
Por que me recusas à espera do claustro?!
Eu te espero na noite, doce criança
Não tenhas medo, eu te espero no escuro,
No final do corredor que te ensinaram a temer
Te espero na espiral do redemoinho,
Eu tenho a fonte do saber e do prazer
Vem comigo e não terás mais medo
E eu não te dou a mão, pois já te dei mil asas
E eu não te dou o mapa, pois se caíres perdida, ali está o tesouro
Eu não te dou o príncipe, pois quero te fazer Rainha

Por onde me procuras, doce Cinderela?!
De tudo tenho feito para que me enxergues
Já quebrei teus bibelôs, emaranhei teus cabelos
Rasguei teu diário de bons costumes,
Percorri tua espinha nos sonhos em que cavalgava os faunos
Fiz tremer tuas coxas nas noites sem lua
Eu que tenho doze nomes para que me chames
Eu que sangro treze luas para que me percebas!
Por onde me procuras, doce criança?!
Eu te espero com a taça cheia
E no doce do absinto te percorrerei cada veia.
Não temas quando me encontrares na encruzilhada,
Eu sou Lilith, a Rainha da Noite,
Beba da minha taça, se entregue ao êxtase
E finalmente me encontre, doce Cinderela,
Antes que o príncipe se apodere do trono

Texto de Jussara Machado